terça-feira, 20 de dezembro de 2011


Ele acordou pela manhã e olhou em volta. Estava em um quarto totalmente branco. Foi então que ele percebeu que não tinha cama, nem qualquer móvel. Mas lembrava-se de ter ido para seu quarto na noite passada e ter deitado em sua cama.
Começou a andar e concluiu que o quarto não tinha fim. Ou se tinha estava em algum ponto muito distante, que ele não tinha a menor vontade de conhecer.  Então ocorreu a ideia de que podia estar dormindo e que aquilo era um sonho proveniente do porre da noite passada.
Beliscou-se.
Dor.
Não era sonho.
Como diabos foi parar naquele lugar? Seria aquele um lugar para onde Deus mandava as almas quando estas o desagradavam? Não. Não acreditava em Deus, então essa opção estava excluída. Lembrou-se então quando era criança e acreditava em Deus e rezava todas as noites antes de dormir. Mas o tempo passara e Deus se mostrava cada vez mais ausente, sua vida tinha sido uma merda desde a sua formação no útero de sua mãe.
Mãe. Pai. Duas pessoas que ele não compreendia a relação. Nunca soube distinguir se eles eram bons ou ruins. Havia 10 anos que eles não sabiam do filho e ele não fazia questão de avisar como estava. O pai provavelmente diria que ele estava errado antes mesmo de saber o que o filho conquistara. E a mãe se postaria do lado do pai. E ele nem sabia ao certo se amava seus pais.
Amor.
Não conseguia se lembrar a ultima vez que amara alguém. Que transara sentindo amor. Ou que tenha dito um eu te amo sincero e não para suprir suas necessidades sexuais. Da mesma forma que ele acreditara em Deus ele acreditou no amor. Agora, não acreditava em ambos. A verdade era que desde cedo ele construíra um muro ao redor de seus sentimentos. E cada tijolo fora colocado e cimentado por desilusões, inseguranças, fobias.
Como ele adoraria uma cerveja e um cigarro. Foi então que ele ouviu uma música. Sim, era música. Ele não estava sozinho ali a final. Caminhou seguindo a canção e viu um sofá branco. Junto ao sofá uma mesinha com um aparelho de som, cigarros e cerveja. Tudo branco. Sentou no sofá pôs a cerveja num copo (branco) e experimentou. Era a melhor cerveja que já havia provado e quando ele olhou a garrafa ela estava totalmente cheia. Como se ele não tivesse bebido. Abriu a carteira de cigarros e só havia um. Era melhor do que nada. Procurou um isqueiro e o encontrou atrás do som que ele descobriu que não tinha fio e era estranhamente muito agradável a vista.
Acendeu o cigarro.
Baforada.
E então uma fumaça espessa e branca.
E como se nada tivesse ocorrido o cigarro continuava inteiro. Era maravilhoso aquilo. Era o que ele sempre buscara. Seu muro finalmente se tornará tão alto que ele conseguira se isolar completamente. Dentro do seu muro o mundo era perfeito. Estava longe dos seus fantasmas do passado. Longe de toda aquela merda humana. Longe dos vermes que tentaram destruí-lo.
Podia ser quem quisesse agora. Nada de máscaras. A máscara de quem ama os pais. De quem acredita em Deus. De quem ama verdadeiramente alguém. O baile de máscaras estava encerrado. Lembrou-se de uma passagem de um livro que dizia algo mais ou menos como “o relógio badalava meia-noite e uma voz gritou ‘Tirem as máscaras’”.
Recostou-se no sofá.
Pôs os pés na mesa.
Sorriu.
E então reparou que estava com as roupas que vestira na noite antecedente. Era bom ver um pouco de cor. Tentou pensar no que fazer agora que estava trancafiado. Decidiu mexer no rádio.
“Of course Momma's gonna help build the wall”
“Can't tell if this is true or dream”
Desligou o rádio.
Sentia-se estranho. Não estava tão feliz quanto devia estar. Na verdade, nem feliz estava. Não entendia aquilo. Finalmente conseguira se isolar de todos e mesmo assim não conseguia ser feliz.
Foi então que ele percebeu que ele semmpre vivera isolado. Nascera fechado dentro de sua casca como um caracol ou uma tartaruga. Nunca deixara ninguem se aproximar. Nunca percebera que ele mesmo afastara as pessoas. Essa solidão em que estava não era diferente da solidão que vivera sua vida inteira.
Recusava a acreditar que ele era a propria razão de sua infelicidade. Ele não podia ser o culpado de nada. Tentou lembrar de algum momento em que fora feliz. Não conseguiu. Colocou mais cerveja no copo. Seu rosto estampava decepção. Não era Deus quem tinha desistido dele, não eram seus pais que o haviam abandonado, não foram seus amores que não o amaram. Ele que havia desisto, abandonado e não amado. Era por isso que se drogava tanto. Para esquecer o ser infeliz que era.
Abraçou a si mesmo desperado enquanto olhava o copo de cerveja. Começou a balançar-se e a chorar. Sem piscar e sem desviar o olho da cerveja. Ficou nesse transe durante bastante tempo (Mas o que era o tempo num lugar daquele? O tempo poderia passar infinitamente mais rápido ou infinitamente mais devagar que não seria notado). Então ele pegou o copo e tacou o mais longe que conseguiu e correu. Não sabia porque o fazia. Achava que conseguiria fugir de tudo.
Correu.
Correu.
Correu.
Bateu.
(Oh, então tinha um fim)
Levantou-se e olhou em volta. Estava novamente em seu quarto. Passou a mão pelos cabelos. Abriu um sorriso. Gritou. Jogou-se na cama, gargalhando de alegria. Estava livre. Era a hora de colocar as máscaras de volta. De se entregar aos vícios. De voltar ao seu isolamento.

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